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20 abril 2018

Recensão da autoria do Dr. Bruno Ministro sobre a ampla produção de electrografias da autoria de António Aragão


Recensão da autoria do Dr. Bruno Ministro sobre a ampla produção de electrografias levadas a cabo por António Aragão durante a década de 1980


Electrografia 1, ou o elogio da loura de Ergasmo nu Atlânticu é um livro que se enquadra na ampla produção de electrografias levadas a cabo por António Aragão durante a década de 1980. O autor faz uso de procedimentos de manipulação electrográfica na construção de textos visuais com recurso à máquina fotocopiadora. Publicados em 1990 na Vala Comum, editora dirigida pelo próprio Aragão, os textos presentes em Electrografia 1 foram concebidos em 1984, segundo data atribuída pelo autor. Este volume é o primeiro de uma série de três livros publicados em 1990 com a estampa da sua editora: Electrografia 2 ou merdade my son, composto em 1985; e Electrografia 3 ou céu ou cara dente por dente, criado em 1987.

Descoberto por Pál Selényi no início do século XX e posteriormente desenvolvido por Chester Carlson, o processo de cópia electrofotográfica massificou-se através da comercialização de fotocopiadoras a partir da década de 1960. Ao mesmo tempo que as máquinas começam a ser usadas em escritórios e estabelecimentos comerciais, artistas como Barbara Smith, Esta Nesbitt, Bruno Munari, Joseph Beuys e Sonia Landy Sheridan fazem as primeiras experiências estéticas com recurso à nova tecnologia. Esta prática artística, conhecida como electrografia ou copy art, mas também nomeada como xerografia ou arte da fotocópia, vai ser desenvolvida por vários artistas plásticos, designers gráficos e poetas visuais sobretudo entre as décadas de 1960 e 1990.

Em Portugal, António Aragão é um dos pioneiros no campo da experimentação das possibilidades expressivas da electrografia. Os primeiros trabalhos de que há registo estão publicados em Poemografias: Perspectivas da Poesia Visual Portuguesa, livro impresso em 1985 e no qual onze poetas visuais e experimentais apresentam ensaios com propostas de caminhos para o experimentalismo português. Estes textos são acompanhados por uma mostra de trabalhos criativos da autoria dos mesmos artistas. De António Aragão encontramos já ali excertos das primeiras experiências da série de electrografias (pp. 189-200) que apenas serão publicadas na íntegra cinco anos mais tarde.

Electrografia 1 é constituída por três imagens fotográficas originais que se metamorfoseiam através da manipulação que delas é feita no decorrer do processo de cópia. Nas composições de Aragão, é possível identificar um conjunto de técnicas características da arte electrográfica, como são os casos do copy motion – efeito de movimento gerado pelo deslocamento do material original durante o processo de cópia – e da degeneração, procedimento iterativo de cópia da cópia que leva a imagem a desintegrar-se, apresentando um aspecto gasto, devido ao acentuado contraste entre tons e respectiva perda dos tons intermédios da matriz. Na sua obra, Aragão faz igualmente uso de estratégias de sobreposição, deformação, repetição, ampliação e redução, fazendo jus à tese apresentada por Christian Rigal quando afirma que a electrografia é a antítese da cópia, uma vez que “todas as técnicas electrográficas (…) são técnicas de transformação”. (Rigal, 2005: 61)

Às imagens manipuladas, António Aragão junta fragmentos verbais escritos em letra cursiva. As frases que em Electrografia 1 se imiscuem com as imagens apresentam também elas uma estética da distorção do discurso, fazendo implodir o sentido num processo de recursiva dessemantização que, através do nonsense, persegue a destruição das retóricas instituídas. Imagem e palavra não devem ser entendidas separadamente. Sobre o caso concreto da electrografia, Aragão defende no ensaio “A escrita do olhar” que palavra e imagem “não são concebidas como dois componentes isolados no texto mas antes como uma visualização articulada sempre entre imagem e palavra.” (Aragão, 1985: 186)

Ao se basearem as 38 páginas em apenas 3 imagens-matriz e tendo em conta que alguns fragmentos verbais de certa forma se repetem, Electrografia 1 tem a unidade característica de um trabalho que é desenvolvido em série. Isto é importante na medida em que, em primeiro lugar, apresenta, sem obstruções românticas, o processo genético da obra e, em segundo lugar, expõe o livro enquanto objecto com uma estrutura narrativa que não é obrigatoriamente linear.

Tem especial relevo o facto de António Aragão afirmar que não se serve da fotocopiadora apenas enquanto ferramenta para a criação, assumindo inclusive que a tecnologia participa na estruturação da obra como agente activo na interação homem-máquina: “os dois «sujeitos» funcionam numa palpitante simbiose como se fossem reduzidos apenas a um só, isto é, como se se tratasse duma única existência sistemática de que ambos participam igualmente conjugados.” (Aragão, 1987: 150) Este é mais um dos indicadores de que trabalhos artísticos como as electrografias de António Aragão preparam já a era digital.

Com o seu trabalho de copy art, António Aragão exerce uma enorme influência sobre um conjunto de outros poetas visuais que, pertencendo ao seu circuito de afinidades pessoais e estéticas, colaboram activamente nas suas experiências. É o caso do núcleo de artistas que, na década de 1980, na ilha da Madeira, se junta à volta da fotocopiadora e que inclui nomes como António Dantas e António Nelos, mas é também o caso de outros poetas experimentais como César Figueiredo que trabalharam a fundo este meio. O trabalho destes poetas visuais vai ser difundido ao longo dos anos 1980 e 1990 em exposições nacionais e internacionais, mas é sobretudo a sua actividade na rede internacional de arte postal que vai fazer circular as criações deste conjunto de poetas que, não destoando da recepção do experimentalismo na esfera editorial e crítica portuguesa, foi mantido à margem dos circuitos de distribuição comercial.

Este texto foi publicado em português no Arquivo Digital da PO.EX - Poesia Experimental Portuguesa

Este texto foi publicado em Inglês no Electronic Literature Directory, parceiro institucional do Arquivo Digital da PO.EX - Poesia Experimental Portuguesa:

This text was published in English in the Electronic Literature Directory, institutional partner of the Digital Archive of the PO.EX - Portuguese Experimental Poetry:

05 abril 2017

António Aragão recalled at the Electronic Literature Organization 2017 Conference, Festival and Exhibits (Oporto city)

The ELO (Electronic Literature Organization) is pleased to announce its 2017 Conference, Festival and Exhibits, to be held from July 18-22. The Conference is hosted by University Fernando Pessoa, Porto, and the Festival and Exhibits will be held in the center of the historic city of Porto, Portugal.

Titled «Electronic Literature: Affiliations, Communities, Translations», ELO'17 will welcome dialogues and untold histories of electronic literature, providing a space for discussion about what exchanges, negotiations, and movements we can track in the field of electronic literature.

The three threads (Affiliations, Communities, Translations) will weave through the Conference, Festival and Exhibits, structuring dialogue, debate, performances, presentations, and exhibits. The threads are meant as provocations, enabling constraints, and aim at forming a diagram of electronic literature today and expanding awareness of the history and diversity of the field.

Our goal is to contribute to displacing and re-situating accepted views and histories of electronic literature, in order to construct a larger and more expansive field, to map discontinuous textual relations across histories and forms, and to create productive and poetic apparatuses from unexpected combinations.

Affiliations

Electronic literature is trans-temporal. It has an untold history.

Topics: Multiple diachronic and genealogical perspectives on electronic literature, providing room for comparative studies; Untold archeologies and commerces between electronic literature and other expressive and material practices; Intermedia and ergodicity in Baroque poetry, futurism and dada; concretism, Videopoetry and Fluxus; Videoart and soundart; and how these expressive forms are recreated and transcoded in digital forms of literature; Early experiments in generative and combinatory literature; Performances mapping the aesthetic and material antecedents of electronic literature; Attention to remixing/re-coding of previous materials from the avant-gardes.

Communities

Electronic literature is global. It creates a forum where subjects in the global network act out and struggle over their location and situation.

Topics: Expanding our understanding of electronic literature communities and how literature is accounted for within diverse communities of practice; Case studies of individual communities as well as broader engagement with how communities form and develop, and how they interact with and create affinities with other communities; Comparative case studies: Artists’ books; Augmented and Virtual Reality; Perl poetry; Sound-video practitioners; ASCII art and Net.Art; Hacktivism/Activism; Memes and Fan Fiction cultures; Minecraft, Twine, Bots and Indie Gaming; kids' e-lit; and how these practices are connected to electronic literature. Performances engaging with the diversity of practices in electronic literature and affiliated communities, as well as their critical awareness of network aesthetics.

Translations

Electronic literature is an exchange between language and code. It contains many voices.

Topics: Electronic literature as translation in the broadest possible sense; Beyond interlinguistic translation: emulations, virtualizations, re-readings, and interpretations; Limits and specifics of the programmability of natural languages as a means of literary expression; Plagiotropy; Linguistic, intermedial and intersemiotic translation; Code and text translation; Generative literature and emulations of historic electronic literature; Re-readings and interpretations of previous works; How these activities expand our understanding of literature and textuality; Performances addressing linguistic reflexivity and their engagement with translation, broadly understood, i.e., as a transcoding mechanism involving exchange in and across media, languages and cultures.

17 março 2017

António Aragão na Conferência ELO'17 «Electronic Literature: Affiliations, Communities, Translations»


A ELO - Electronic Literature Organization está a organizar a conferência «Electronic Literature: Affiliations, Communities, Translations», a ter lugar este ano no Porto, entre 18 e 22 de Julho. Tendo como Chair Rui Torres (Universidade Fernando Pessoa) e Sandy Baldwin (RIT), a edição deste ano pretende ser um espaço de debate sobre intercâmbios, negociações e movimentos no campo da literatura eletrónica. A ELO Conference é um evento incontornável nesta área de investigação. É a primeira vez que esta conferência é organizada em Portugal e, este ano, contará com a presença de mais de 250 académicos e artistas, oriundos de mais de 35 países.
A Obra de António Aragão será abordada na sua condição de pioneira no âmbito da Poesia Experimental Portuguesa.
Website oficial da conferência: