«Muitas poucas vezes se encontra um personagem com uma actividade tão dispersa, tão rica, tão generalizada e utopicamente tão profissionalmente especializada. Recria a história estudando com meticulosidade o passado; luta pela garantia da sua permanência através de um restauro cientificamente aplicado; lê a realidade do presente, compreende-a e explica-a perscrutando num experimentalismo de vanguarda as metas do futuro forja, na solidão da ilha novos caminhos que são do mundo.
Historiador, restaurador, romancista, museólogo, etnógrafo, pintor, escultor ou poeta, escapa a toda a tentativa de exacta catalogação.
Publicou livros sobre a História da Madeira e possui outros por publicar ou em vias de acabamento; estudou em Paris e em Roma como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian; realizou estudos histórico - urbanísticos, incluso a inventariação - classificação da cidade do Funchal e do Porto Santo e os inventários artísticos de parte da Madeira - Concelhos da Calheta, Ponta do Sol, Ribeira Brava e Câmara de Lobos - ( a pedido de entidades oficiais especializadas), os quais aguardam publicação, assim como iniciou a recolha de grande parte do folclore e etnografia da Madeira e Porto Santo.
Não é o especialista do nosso século que aprofunda o conhecimento restrito da realidade, tem uma visão sincopada da vida; não é o enciclopedista que na sua dispersão não aprofunda a verdade; não é o filósofo que absorvido pela ginástica mental esquece o carácter material da vida. È de tudo um pouco mas muito de tudo.
Esta complexidade gera o mito. A figura de António Aragão envolve-se nas dúvidas do mistério quando, em círculos fechados, alta noite, se volta a perguntar: mas afinal quem é o Aragão?
Conhecido e enaltecido em meios culturais estrangeiros, antologiado em diversas publicações nacionais e estrangeiras, raramente as suas actividades tornaram a forma de caixa alta nas páginas dos jornais da Ilha. É um desconhecido na Ilha que conhece.»
Professor Jorge Marques da Silva. in Catálogo da exposição retrospectiva de pintura de António Aragão (1957-1965).